sob pressão

30/07/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:43am

Alta no preço dos grãos afeta a criação de bovinos, frangos e Suínos
A alta das cotações do milho e da soja pressiona o custo de produção da indústria de carnes, que neste segundo semestre pode rever os planos de confinamentos e reajustar os preços dos produtos no atacado. No caso da pecuária de corte, os insumos mais caros devem comprometer o segundo turno de confinamento de bovinos, reduzindo o número de animais criados em regime de engorda intensiva.

De acordo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no Distrito Federal, de maio de 2011 a junho deste ano, já houve uma variação 8,25% do preço carne. Aumento acima da inflação do período.

As criações de frangos e Suínos são as mais afetadas pela alta dos preços dos grãos, mas os criadores podem ajustar a escala de produção, por serem atividades de ciclos mais curtos. Em função do novo cenário, a tendência é de redução no alojamento nas granjas e na produção de matrizes. Uma alternativa, que seria o repasse na venda do produto final, esbarra na demanda, que em época de crise tende a se enfraquecer, com troca por proteínas mais baratas.

José Vicente Ferraz, diretor técnico da consultoria Informa Economics FNP, explica que o repasse da alta das cotações das matérias-primas aos preços finais é imediato nos derivados primários, como óleos, fubá e farelos. No caso dos produtos processados, como carnes e lácteos, leva mais tempo, "porque depende dos estoques de grãos nas indústrias". Eventuais repasses poderão ocorrer, na visão do analista, a partir de outubro, caso o cenário de alta dos preços dos insumos prevaleça

DEMANDA NO FIM DO ANO

Um aspecto que deve ser observado é que a demanda por carnes fica mais aquecida nos últimos meses do ano, o que em tese favorece um possível reajuste de preços do produto final. O consumo cresce devido às festas de final do ano e ao recebimento do décimo terceiro salário e de eventuais bonificações. O Zootecnista e analista da Scot Consultoria, Alex Santos Lopes da Silva, explica que a alta das cotações do boi gordo e da carne bovina se dá em novembro e dezembro, período de transição entre o término da entressafra e o início do período das águas.

O especialista da Scot lembra que em novembro do ano passado o boi casado chegou a ser negociado no atacado por R$ 6,71/quilo, o maior preço do ano. No segundo semestre de 2011, entre julho e novembro, a alta desta peça foi de 11%.

Ele diz que é difícil prever a que ponto a carne bovina irá se valorizar neste ano. "Temos que ponderar que o confinamento, segundo as expectativas iniciais, deve crescer, embora precise ser revisto o nível de crescimento ", afirmou Silva.

No caso dos bois de confinamento, a alimentação representa de 25% a 30% do total do custo operacional da atividade, incluindo a aquisição do boi magro. "A alta dos insumos e a queda das cotações futuras da arroba têm preocupado os confinadores. Antes tínhamos uma perspectiva boa para a oferta de animais nesse sistema intensivo, agora não", afirma o presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Eduardo Alves de Moura.

SAIBA +

Devido ao ciclo de produção mais curto do que o de bovinos, neste final do ano deve haver uma oferta menor de carne de frango e Suínos ante a uma demanda aquecida por causa das comemorações do período.

Assim como na cadeia de bovinos, o desequilíbrio proporcionaria um aumento de preços das proteínas nos últimos meses do ano.

Oferta já é menor

A Associação Nacional dos Confinadores ainda não revisou a estimativa de crescimento de 13% a 15% no plantel de animais confinados neste ano, mas já conta com um porcentual menor, devido a uma "quebra" de oferta de animais de segundo turno. "O confinamento especulativo – que inclui a compra do boi magro, confinamento, travamento de preço/venda no mercado futuro – não vai acontecer nesse segundo turno. Ou confinamos com uma margem bem apertada ou não confinamos e colaboramos para uma restrição de oferta e, consequentemente, aumentos de preços", diz Moura, ressaltando que a arroba no patamar dos R$ 100 para esses meses seria o ideal. Hoje, contratos que vencem em outubro e novembro têm valores entre R$ 96 e R$ 97/arroba.

"O cenário está bem perigoso para os preços das carnes no segundo semestre. Há espaço para o repasse de custos nos valores vendidos ao consumidor, mas neste ano há um limitador: o cenário mais apertado de demanda", ressalta Alves, da MB Agro. Segundo ele, no mercado interno há um endividamento muito alto do consumidor e no mercado externo, uma queda de demanda por conta da crise. "Alguma pressão inflacionária é inevitável, mas será mais contida do que a dos anos anteriores", completa Ferraz, da Informa Economics FNP.