Simpósios marcam o segundo dia do 42º CBA 2023

31/05/2023 – Atualizado em 31/05/2023 – 4:15pm

Durante o Simpósio de Saúde Pública, que abriu o segundo dia do 42º Congresso Brasileiro da Anclivepa (CBA 2023), o médico-veterinário Nélio de Morais, presidente da Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV/CFMV), defendeu que a vigilância em zoonoses seja feita pelo viés da saúde única. O evento ocorreu de 24 a 26 de maio de 2023, em Fortaleza (CE).

O presidente e os integrantes da comissão traçaram um panorama com as principais zoonoses que acometeram a humanidade nos últimos anos, como a pandemia da covid-19, a influenza, a leishmaniose visceral e a raiva, dentre outras. Durante a apresentação, Morais mostrou como a interligação entre o meio ambiente e a saúde animal podem impactar a saúde humana, contemplando o contexto de saúde única. A CNSPV destacou também as doenças relacionadas à baixa cobertura de saneamento básico no país, como a leptospirose.

“A leptospirose é uma doença grave, de impacto na saúde pública e com alto índice de letalidade, em alguns momentos superior à dengue”, alertou Morais, que ainda abordou a importância da notificação de casos dessas enfermidades, mesmo que de forma compulsória, para a adoção de medidas e políticas públicas que visem à vigilância e ao controle.

No período da tarde, o presidente da CNSPV proferiu outra palestra, com o tema “Hesitação vacinal na saúde humana e seus possíveis reflexos na Medicina Veterinária”. Ele explanou sobre o contexto histórico das doenças e das vacinas como forma de prevenção na interface das saúdes humana e animal.

Sobre o calendário vacinal de animais, Morais afirmou que o médico-veterinário tem papel essencial para esclarecer os tutores sobre os benefícios das vacinas para a saúde dos pets e desfazer alguns mitos. “A vacina ainda é a melhor forma de controlar o avanço das doenças imunopreveníveis”, assinalou.

Simpósio de Saúde Única

Como parte da programação, o 42º CBA discutiu os desafios enfrentados pela Medicina Veterinária na sociedade organizada, no âmbito da saúde única.

O médico-veterinário Paulo Abílio Varella Lisboa, pesquisador da Fiocruz; a médica-veterinária Jessika Caroline Ferreira, pesquisadora do Proúnica, da Fiocruz; e a psicóloga Bianca Gresele, coordenadora de Saúde Mental da Anclivepa Brasil e presidente da Ekôa Vet, foram os palestrantes do painel.

Paulo Abílio palestrou sobre “O desafio da interrelação entre sociedade, Veterinária e saúde única”, em que apontou os aspectos perversos da vulnerabilidade social. Ele ressaltou que a saúde única é baseada na relação indissociável entre humanos, animais e ecossistema, devendo proporcionar o bem-estar coletivo. 

O pesquisador promoveu reflexões ao apontar dados que demonstram que o Brasil possui a maior população de médicos-veterinários do mundo, com 77,4 profissionais por habitante, conforme a Demografia da Medicina Veterinária do Brasil, com destaque para a população de cães e gatos no país: segundo o Instituto Pet Brasil, são 54,2 milhões de cães e 23,9 milhões de gatos. 

“Temos que pensar sobre o nosso papel e a nossa relação. Temos mais cães e gatos do que crianças domiciliadas. Pensar nos altos números é pensar na vulnerabilidade, na população de animais abandonados e/ou lotados em ONGs (Organizações não Governamentais) ”, ponderou. 

O médico-veterinário ainda relembrou da Agenda de 2030 (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), com ações para acabar com a pobreza, erradicar a fome, combater a desigualdade entre países, promover sociedades pacíficas e proteger os direitos humanos. Ele explicou que as questões sociais impactam diretamente o trabalho do médico-veterinário, visto que os locais com mais frequência de surtos zoonóticos são os que abrigam as populações vulneráveis. 

“Erradicar a pobreza é um desafio de todos nós. Pesquisas apontam que os lugares de concentração das classes D e E são áreas com potencial zoonótico. Estamos falando de babesiose, leishmaniose, hepatozoonose, tripanossomíase, rangeliose, febre maculosa e outras”, ponderou o pesquisador. 

Em seguida, a pesquisadora do Programa de Saúde Única (ProÚnica) da Fiocruz, a médica-veterinária Jessika Caroline Ferreira, falou sobre “Da atenção primária à saúde animal no processo de adoção”, momento em que apresentou as experiências e dificuldades vividas no programa. O ProÚnica é um programa da Fiocruz que busca um território mais saudável, promovendo manejo humanitário dos animais, controle de zoonoses, atenção veterinária, educação e ações sociais. 

Simpósio Saúde Mental

Para encerrar o painel de simpósios, a psicóloga Bianca Gresele conduziu o Simpósio de Saúde Mental. Como orientadora de uma pesquisa inédita realizada com médicos-veterinários no ano passado, na qual 84% dos entrevistados se declararam deprimidos, ansiosos ou irritados, ela fez diversas provocações ao público.

Na sua avaliação, temas relacionados à saúde mental são cada vez mais necessários nas pautas de educação e em eventos voltados a uma das profissões com maior prevalência de burnout e depressão.

“É vital desenvolver uma cultura que reconheça de forma explícita os riscos para o bem-estar físico e mental dos médicos-veterinários. Tornou-se de extrema importância promover abordagens e métodos de autocuidado para a saúde mental nessa área”, afirmou Bianca.

 

Assessoria de Comunicação do CFMV, com apoio das assessorias do CRMV-SC e do CRMV-MT