Relação DCJ e Vaca Louca
10/02/2014 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:59am
Além do diretor-geral do HGG, André Luiz Braga, o médico coordenador da Seção de Neurologia do HGG, José Alberto Alvarenga, a cientista dra. Vilma Regina Martins, coordenadora do Grupo de Pesquisas de Biologia Celular e Molecular do AC Camargo, e a médica veterinária e fiscal da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), Luana na Batistella Palhais, estão entre os especialistas que consideram remota a possibilidade de contaminação de rebanhos com a encefalopatia esporigiforme bovina, no Brasil.
Luana é coordenadora do Programa Estadual de Controle de Raiva dos Herbívoros e Outras Encefalopatias. Ela explica que a fiscalização desenvolvida em Goiás segue os procedimentos padrões adotados pelo Ministério tia Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) para todos os Estados. "Na maioria dos casos, a DCJ não tem nenhuma relação com a alimentação e, por desconhecimento, as pessoas acreditam que estejam ligadas", ressaltou a médica veterinária.
Desde o incidente envolvendo o extermínio de grande pane do Rebanho bovino no Reino Unido, na década de 1980 e 90, a vigilância sanitária mundial tem tratado o controle epidemiológico com muito rigor. Dra. Vilma Martins explica que, naquela época, a doença da Vaca Louca foi associada como variante da Doença de Creuizfeldt-Jakob, por apresentar as mesmas características das doenças priônicas. "No entanto, mesmo naquele tempo, a ligação entre a Vaca Louca e a DCJ ainda não foi confirmada pela literatura médica. Não existe prova específica".
HISTÓRICOS
Em 1985, veterinários britânicos relataram que alguns animais de quatro e cinco anos adoeciam com sinais de disfunções do sistema nervoso central. A epidemia se alastrou por anos. No auge, em 1993, houve registros de 3.5 mil casos por mês.
Matadouros clandestinos e principalmente as rações com restos bovinos (onde se tritura o crânio dos animais para a produção de farinha de ossos) são os principais fatores apontados para os motivos do surto de Vaca Louca, na década de 1980 e 90. Estudiosos da época perceberam que a doença poderia estar relacionada à alimentação dos animais.
Foi demonstrado que apenas a contaminação poderia acontecer caso um animal saudável se alimentasse com apenas um grama de cérebro de bovino contaminado com a encefalopatia espongiforme. A doença acometia dentro de períodos semelhantes ao da doença natural (após 5 anos de idade). Com isso, nova ordem governamental proibiu a alimentação de ruminantes com qualquer proteína de mamíferos, em abril de 1996.
RISCOS NA ATUALIDADE?
Por isso, a veterinária Diana – coordenadora na Agrodefesa – explica que o controle principal das agências de Defesa Agropecuária, semelhantes so de Goiás, se incide sobre a fiscalização da alimentação animal, com base em Instrução Normativa, a IN-41, disponível no site da Agrodefesa. "Duas gerências cuidam desse processo no Estado: a de Sanidade Animal e a de Fiscalização da Alimentação de Ruminantes".
De acordo com Luana, além do trabalho direto por meio de averiguação das denúncias, existe um calendário de fiscalizações ativas em municípios considerados de risco (onde há grandes frigoríficos). Segundo as normas internacionais, todos os países são avaliados em uma escala de riscos: insignificante; controlado; e desconhecido. Enquanto nos EUA e Canadá o risco é controlado, no Brasil é insignificante, segundo a coordenadora da Agrodefesa.
MONITORAMENTO DE IMPORTAÇAO
Outro ponto destacado pela fiscal da Agrodefesa é o monitoramento de bovinos importados, que estão presentes em propriedades brasileiras. "Em Goiás, por exemplo, é feito um monitoramento mensal em cada propriedade, por fiscais que avaliam o estado de saúde dos animais importados para reprodução", enfatizou Luana. Os fiscais qualificam o estado de saúde do animal como bom, regular, ruim ou péssimo.
Ainda segundo a coordenadora, todo esse processo serve para controlar a importação. Com precisão, ela indicou que, no Estado de Goiás, oito propriedades mantém 29 animais importados (EUA, Canadá e Paraguai). Segundo informações de frequentadores do meio rural, "a fiscalização é tão rígida que chega a dar nos nervos".
Além disso, tudo o que acontece com os animais deve ser notificado à Agrodefesa. "Inclusive o abate, quando o animal aparenta velhice e não concede lucros ao dono. O exame para averiguar a saúde do animal, em vida, é feito como rotina, não importa as condições do óbito do animal, abate ou natural", destacou Luana.