PESQUISA
28/02/2013 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:05am
Iniciada há quase dois anos, a rede de pesquisa Pecus começa a reunir para publicação os primeiros resultados dos experimentos. O principal objetivo da rede é estimar a participação dos sistemas de produção agropecuários na dinâmica de gases de efeito estufa, visando subsidiar políticas públicas e alternativas de redução. Para saber se os sistemas de produção possuem potencial de mitigação, eles serão comparados com a vegetação nativa (floresta, caatinga, pampas) de cada região em que estão inseridos.
Com centenas de pesquisadores e diversos parceiros no Brasil e no exterior, incluindo universidades, institutos de pesquisa e agências de fomento à pesquisa e da iniciativa privada, os pesquisadores da rede e suas equipes têm feito experimentos nos seis biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.
Líder da rede, a Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) informa que vem realizando a pesquisa em áreas de Mata Atlântica. Após cinco anos do início do primeiro projeto, a equipe comemora a consolidação dos primeiros resultados.
A emissão de gases de efeito estufa pela pecuária é um processo conhecido. Entretanto, é importante e necessário avaliar os diferentes sistemas de produção. O metano é um importante gás de efeito estufa e é produzido naturalmente pelos herbívoros ruminantes (que possuem estômago dividido em quatro partes: rúmen, retículo, omaso e abomaso).
Durante a evolução desses animais, o rúmen foi útil para que eles pudessem comer muito alimento de uma vez e retirar-se para um local seguro de predadores, realizando lá a ruminação e a fermentação desse alimento com a ajuda de micro-organismos. Grande parte do metano produzido pelos animais é, portanto, liberada pela boca e narinas.
Para medir a emissão de metano pelo gado, os pesquisadores da rede Pecus utilizam uma canga, acoplada a um cabresto na cabeça do animal por um período de 24 horas. Parte do gás emitido pela boca e narinas fica retida numa espécie de tubo que, vedado, é levado para análise em um aparelho chamado cromatógrafo.
As pastagens também emitem gases de efeito estufa. Por isso, na Pecus estão sendo avaliadas as dinâmicas de gás carbônico, óxido nitroso e metano. Esses gases são medidos por meio de uma câmara estática colocada nas áreas de pastagens e de mata durante uma hora. A análise do sistema solo-planta também é feita no cromatógrafo.
Remoção dos gases
No entanto, não basta calcular a emissão de GEEs. É preciso também medir a remoção de gases pelos sistemas pecuários por meio do sequestro e acúmulo de carbono nos sistemas de produção. Isso ocorre principalmente como consequência da fotossíntese das plantas. Nesse processo são formados carboidratos, que contêm o elemento carbono. Este passa a fazer parte da estrutura das plantas.
Quando elas morrem e se transformam em matéria orgânica, o carbono presente nelas é incorporado ao solo, no processo chamado de sequestro de carbono. O carbono presente na madeira das árvores também representa uma forma de sequestro de carbono. Se a madeira não for queimada e permanecer intacta em usos como mobiliário ou construção civil, o carbono sequestrado permanece estocado.
"De gás poluente, o CO², após o processo de fotossíntese e crescimento das plantas, se transforma em carbono estocado na matéria orgânica do solo ou na madeira", explica a pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste Patrícia Perondi Anchão Oliveira.
Balanço final
Após avaliar por pelo menos dois anos os resultados de emissão e remoção de gases de efeito estufa, será feito o balanço de carbono de cada sistema de produção e das áreas de vegetação natural. Assim, será possível saber se o sistema é mitigador, ou seja, se é capaz de reduzir os GEEs na atmosfera em relação à vegetação natural.
Mas este ainda não é o fim da pesquisa, segundo Patrícia. "Precisamos saber se os sistemas de produção atendem aos requisitos de sustentabilidade por meio de avaliações paralelas em outras áreas de pesquisa. Por exemplo, um sistema irrigado e com alta lotação pode ser mitigador, mas inviável economicamente. Ou pode ser poluidor, mas econômico para o produtor", afirma. Para que um sistema seja sustentável e recomendado, é necessário atender ao tripé da sustentabilidade: social, ambiental e econômico.