Negócios

05/07/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:10am

Grandes empresas como JBS, Marfrig, asiáticas e até a americana Tyson podem arrematar parte de negócios

A fase final do julgamento da fusão entre Sadia e Perdigão no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), cuja sentença é esperada para a próxima semana, mobiliza a atenção não apenas das grandes empresas do setor, mas também de bancos de negócios e investidores institucionais. Todos debruçados na avaliação dos possíveis ativos e marcas que podem ser postos à venda, como já sinalizou o relator do processo no órgão antitruste, como forma de diminuir a concentração excessiva que a BRF-Brasil Foods, empresa resultante da fusão, tem em vários segmentos do mercado doméstico. As nacionais JBS Friboi e Marfrig, a americana Tyson Foods e várias companhias asiáticas do setor, como a japonesa Nippon Meat Tecas e a tailandesa Charoen Pokphand (CP Thailand), além de produtores chineses, estão entre os potenciais interessados em arrematar ativos e marcas da BRF de acordo com os analistas. Procuradas, as empresas não se pronunciaram oficialmente.

Em reuniões com conselheiros do Cade, dirigentes da BRF acenaram com a possibilidade de reunir ativos de diferentes regiões em blocos, que chamam de “mini-BRFs” que seriam postos à venda junto com marcas do portfólio da companhia. A empresa resiste, porém, em incluir a Sadia nesses pacotes. A questão é que nos mercados em que a BRF domina as vendas -— como o de pizzas e lasanhas congeladas (de 80% a 90%) e frios especiais (de 90% a 100%) -—, essa hegemonia se dá principalmente nas marcas Sadia e Perdigão.

—- Se forem postos à venda blocos de ativos (“as mini-BRFs”), há centenas de empresas que poderiam se interessar -— diz Osler Desouzart, da OD Consulting, que inclui grupos mexicanos, como o Vize, na lista de pretendentes de fatias da BRF. — Agora, se puser a Sadia à venda, o número de potenciais compradores se reduz bastante.

Renato Prado, da Fator Corretora, observa que a Perdigão "pagou" cerca de R$10 bilhões pela Sadia —- assumiu R$7 bilhões em dívidas e repassou R$3 bilhões em ações aos ex-controladores da empresa. Não arrisca precificar a companhia hoje, mas garante:

—- Temos recomendação positiva para o papel. Está barato. Mesmo se vender a Sadia, a Perdigão vale mais do que isso, pois terá um caixa violento.

Mesmo que o Cade concorde com a vendas das tais “mini-BRFs” e aprove a fusão, o processo não será simples, pois as unidades de processamento de frangos e suínos são operações integradas, que incluem produtores associados e também os canais de distribuição. De acordo com o consultor Desouzart, são cerca de 24 mil pequenos proprietários rurais autônomos, que operam integrados com a BRF. E são mais de 30 centros de distribuição para onde é destinada a produção das 60 fábricas do grupo, antes de ser distribuída a mais de 200 mil pontos de venda de todo o país.

— Não será um processo simples, nem ágil. Não falamos de vender produtos, mas de unidades produtivas complexas.

O engenheiro agrônomo Alcides Torres, sócio da Scot Consultoria, diz que o relacionamento da empresa com produtores de grãos de frangos e suínos piorou depois da fusão. E concorda que não há como vender fábricas sem os integrados. E além das gigantes JBS Friboi e Marfrig, Torres coloca a cooperativa Aurora, de Chapecó (SC) entre os interessados nos ativos a serem vendidos. Apenas a distribuição poderia ficar de fora, em sua avaliação. Torres adverte, porém, que uma demora excessiva na venda pode acabar depreciando os ativos.

-— É um processo complicado e a BRF não pode vender no prejuízo.

Torres contesta o argumento da BRF junto ao Cade de que, se vender a Sadia a um grande grupo estrangeiro, particularmente a um asiático, este se voltaria às exportações como principal mercado, virando as costas ao mercado brasileiro, o que prejudicaria ainda mais os consumidores locais.

—- O Brasil não é um mercado para se colocar na geladeira, é para entrar e brigar. Nosso consumo interno de carnes já supera o da Europa -— diz Torres.