Expansão no mercado externo
22/03/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:27am
O Brasil deve se tornar, em cinco anos, o maior exportador mundial de produtos lácteos. Segundo Vicente Nogueira, diretor do departamento econômico da Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL), a meta do setor é cruzar as fronteiras do México, Rússia e China. "O propósito é alcançar estes grandes mercados", afirma.
De acordo com o diretor, para que o País ganhe a liderança serão necessárias ações conjuntas do governo federal e da iniciativa privada, de apoio à busca de novos mercados externos e acordo sanitário. "Os dois devem fazer a lição de casa juntos", diz. Para Nogueira, o aquecimento da demanda, puxada pela recuperação da economia, o que consequentemente pode impulsionar a produção nacional também deve contribuir para a projeção internacional do País.
Hoje, segundo Nogueira, o Brasil exporta para mais de 50 países, dentre eles Oriente Médio, América Latina, África e Argélia. Estatística do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) de 2000 a 2008, o Brasil registrou ano após ano recordes de exportação. Apenas em 2009, o volume de leite embarcado sofreu uma quebra de 54,78% devido a crise econômica mundial. Para se ter uma ideia, de 2007 para o ano seguinte, o salto das exportações foi de 47,52%. Em 2008, o País vendeu internacionalmente 142,4 milhões de quilos de produtos lácteos, somando um faturamento de US$ 509,1 milhões.
Em equivalente litros leite, de acordo com dados da Scot Consultoria, o Brasil exportou, em 2008, 1,15 bilhão. Para este ano, o leite excedente que pode ser absorvido pelo mercado externo pode chegar, de acordo com levantamento do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), a 3,79 bilhões de litros.
Estudo do Mapa aponta ainda um crescimento anual de 1,95% para a produção de leite no Brasil. Já o setor está mais otimista, a CBCL estima para 2010 um avanço de 3 a 5%.
Segundo Rafael de Lima Filho, zootecnista e consultor da Scot, é esperado para este ano uma produção de 29 bilhões de litros de leite. O Mapa aponta uma produção de 31,12 bilhões de litros e um consumo interno de 27,33, o que deixaria o excedente de 3,79 bilhões de litros.
O analista considera a previsão do Mapa otimista, mas acredita que ao longo dos anos esse projeção deve se encaixar a realidade do mercado. "Os preços mínimos oscilam muito devido aos períodos de safra e entressafra. O setor deveria contar com a fixação de um mínimo, ou pelo menos com garantia de escoamento da produção", pondera.
Para Filho, programas do governo podem contribuir para o aumento do consumo doméstico, e puxar o avanço da produção. "As participações do Viva Leite, por exemplo, e outros projetos ainda são pequenas, mas tem espaço para crescer."
De acordo com o analista, a formação de cooperativas e fusões podem beneficiar os produtores, que sozinhos não possuem poder de negociação e acabam pagando mais caro por insumos. "A consolidação é uma tendência mundial e ajuda a organizar o setor, que no Brasil precisa melhorar. Os produtores têm de ver sua propriedade como uma empresa."
O planejamento do setor pode ainda contribuir para equilibrar os preços, pelo menos no mercado interno. Segundo Filho, em cinco meses, de agosto de 2009 a janeiro deste ano, o preço pago ao produtor sofreu queda de 18,47%, passando de R$ 0,758 para R$ 0,618. "Agora o mercado está reagindo pelo início de queda de oferta, mas mesmo assim para o produtor o impacto é mínimo, de R$ 0,4 a R$ 0,10 a mais por litro. Já para o varejo, daqui para frente os preços tendem a subir. Hoje está em média R$ 1,80, mas deve chegar a R$ 2,10", calcula.
O analista também considera que o setor precisa de planejamento para conquistar novos mercados e ampliar os existentes. "A Ásia e o Oriente Médio são os mais promissores para o Brasil." Filho disse ainda que dos produtos nacionais que mais deixam o País estão o leite em pó, seguido do queijo. De acordo com dados do Mdic, o Brasil também exporta volumes consideráveis de leite UHT e leite condensado.