EMBARGO

22/01/2013 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:05am

Até então ausente das discussões sobre o caso atípico da "vaca louca" registrado no Paraná, a Rússia decidiu colocar o assunto em pauta em um encontro com o governo brasileiro no último dia 16, durante a Semana Verde, na Alemanha. Durante as conversas, os russos reiteraram as críticas à demora do governo brasileiro em comunicar aos parceiros comerciais o episódio e deixaram em aberto a possibilidade de impor barreiras às exportações da carne brasileira.

Após o Ministério da Agricultura anunciar, em novembro, o fim do embargo russo às carnes provenientes de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, as relações comerciais ainda não voltaram à normalidade. Além da ameaça relacionada à "vaca louca", o ministério foi informado ontem que, dos 20 estabelecimentos visitados por veterinários russos em dezembro e que entregaram a documentação solicitada, apenas um, do Rio Grande do Sul, foi autorizado a exportar para a Rússia. Os outros 19 terão que fornecer mais informações.

Durante o encontro na Alemanha, o secretário de defesa agropecuária do Ministério da Agricultura, Ênio Marques, se reuniu com Sergey Dankvert e Evgeny Nepoklonov, respectivamente, chefe e vice-chefe do serviço sanitário russo, o Rosselkhoznadzor. Durante as tratativas, Marques apresentou os pareceres técnicos sobre o episódio "não clássico" de encefalopatia espongiforme bovina (EEB, o nome científico da doença da "vaca louca") no Paraná.
Durante as conversas, Marques ressaltou que o Brasil é um país cujo risco para a ocorrência da enfermidade é considerado baixo – oficialmente, a Organização de saúde animal (OIE) considera esse risco "insignificante".

Marques deixou claro que, diferentemente dos casos tradicionais e mais perigosos por sua possibilidade de contaminação, o animal morto no país não adquiriu a doença por meio da ingestão de farinha de carne e ossos.

Apesar da defesa brasileira, o vice-chefe do Rosselkhoznadzor enfatizou que os cientistas russos consideraram muito longo o prazo de 14 meses para o diagnóstico e a divulgação oficial de episódios da doença no Brasil.

Outro problema apontado pelos russos foi a falta de um alerta a outros países. Segundo Nepoklonov, em situações como essa, devido ao risco representado pela doença, todos os parceiros comerciais do Brasil deveriam ser informados sobre a suspeita de contaminação, o que não foi feito.

Por último, Nepoklonov disse que é "óbvia a falta de vigilância para EEB". Segundo informações do próprio serviço sanitário russo, são feitos cerca de 3,7 mil testes por ano no Brasil para detecção da doença. Para os russos, o número é insuficiente, uma vez que o país abate cerca de 40 milhões de bovinos por ano. Ao fim das conversas, Nepoklonov disse que especialistas russos continuam avaliando o risco de manter as importações e que "assim que forem concluídas as análises, a decisão será tomada".

Durante as conversas, ocorridas em clima tenso, os negociadores russos afirmaram que os problemas apontados por eles, além das restrições comerciais completas ou parciais impostas às carnes brasileiras pelo Japão, Egito, China, Bielorrússia, África do Sul, Arábia Saudita, Peru, Chile, Jordânia e Líbano, não podem ser ignoradas.

Marques, da secretaria de defesa agropecuária do Ministério da Agricultura, afirmou que as reuniões com esses países durante a Semana Verde foram satisfatórias, de modo que o governo brasileiro espera a retirada dos embargos.

"Os russos pediram várias explicações sobre o caso atípico da doença e demos todas as respostas. Eles são livres para tomar a decisão deles, que pode ser de embargar ou não, e nós podemos tomar a nossa, que é ir à Organização Mundial do Comércio (OMC) ou não", disse Marques.