DF
21/08/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:43am
Número de animais infectados este ano chega a 585, aumento de 27,2% em relação ao ano passado e mobiliza moradores nas áreas mais afetadas pela doença. Segundo especialistas, é preciso reforçar a limpeza dos canis e vacinar os bichinhos anualmente
O número de casos de Leishmaniose preocupa donos de animais de estimação, principalmente dos que moram nas regiões de maior incidência da doença. Em Sobradinho e no Jardim Botânico, por exemplo, as administrações de condomínios têm realizado campanhas para alertar os moradores sobre o perigo. E há motivos para a mobilização. Do início do ano até agora, 585 animais foram diagnosticados com a moléstia, número superior ao contabilizado no ano passado, quando 460 exames apresentaram resultado positivo. Um aumento de 27,2%. De janeiro a junho de 2012, a Secretaria de Saúde notificou 34 pessoas de janeiro a junho de 2012, das quais 20 foram confirmadas posteriormente com a doença do tipo visceral.
Se comparado ao mesmo período de 2011, o total de casos aumentou, passou de 19 para 20. A maior parte deles é de não autóctones, ou seja, os pacientes contraíram a doença fora do DF. Mas a quantidade de pessoas que pegou Leishmaniose visceral aqui registrou alta. Quatro no primeiro semestre contra dois nos primeiros seis meses do ano passado. Dois casos foram registrados em Sobradinho, um no Lago Sul e um na Fercal. De janeiro até agora, houve duas mortes no Distrito Federal, mas os pacientes vieram de Goiás e do Maranhão.
Em relação à Leishmaniose tegumentar americana, o governo confirmou 19 casos, apenas dois autóctones, nos primeiros seis meses deste ano. Segundo o chefe do Núcleo de Controle de Endemias da Secretaria de Saúde, Dalcy Albuquerque Filho, a Leishmaniose visceral provoca aumento do baço e do fígado e anemia, entre outros sintomas. Já a tegumentar causa feridas na pele, principalmente nas pernas e nos pés. "Nos dois casos, a evolução da doença pode levar meses e a pessoa demora a procurar o médico", explica. De acordo com o médico infectologista, há cura para os dois tipos da enfermidade.
A Leishmaniose é transmitida pelo mosquito-palha, de nome científico Lutzomyia longipalpis. Os bichos de estimação, principalmente os cachorros, se picados pelo inseto infectado, tornam-se hospedeiros do protozoário. O flebótomo já contaminado pode picar os seres humanos. O infectologista explica que o vetor se reproduz em ambientes em que há acúmulo de matéria orgânica. "Folhas e lixo atraem o mosquito. É preciso deixar canis e galinheiros, por exemplo, sempre limpos."
Exames gratuitos
Preocupado com a possibilidade de ser atingido pela moléstia, o militar aposentado José Maria de Oliveira, 54 anos, morador do Condomínio RK, em Sobradinho, não descuida do asseio no ambiente em que dormem os cachorros da casa. Além disso, faz testes periódicos nos animais, três fêmeas. "O pessoal da Vigilância Sanitária vem aqui todo ano e colhe material para exames. Elas também tomam vacina anualmente", conta. E é no condomínio onde mora José Maria que a administração decidiu fazer uma campanha. No sábado, houve uma ação para conscientizar a respeito dos cuidados com os bichinhos. Em outros parcelamentos, panfletos foram distribuídos e cartazes afixados em áreas comuns com o objetivo de alertar sobre a ameaça.
Para evitar o contágio nos animais, o Médico Veterinário Laurício Monteiro, da Vigilância Ambiental, explica que é preciso realizar anualmente exames capazes de detectar a doença. Os donos também podem colocar coleira com repelente e proteger os canis com telas. Deve-se evitar sair de casa ao anoitecer, além de fechar portas e janelas. "Mas o mais importante é evitar a reprodução do vetor, com a limpeza diária dos canis, e retirar qualquer resíduo de fezes e de alimentos. Evitar sombras no espaço também é necessário", completa.
Sem tratamento
Segundo Laurício, apesar de haver cura para os homens, não há nenhum remédio registrado no Ministério da Agricultura capaz de tratar os animais. "Trabalhos científicos mostram que qualquer tratamento elimina os sintomas clínicos, mas o bicho continua com o protozoário para infectar o vetor", explica. Apesar disso, duas vacinas são aplicadas no Brasil. Além disso, a Zoonoses oferece os exames gratuitamente. Até julho, foram feitas 3.303 coletas. No ano passado, 3.665.
O analista de sistema Clóvis Fontes de Aragão Júnior, 45 anos, morador do Jardim Botânico precisou adotar uma medida extrema. A cadela da família, uma labradora de 9 anos, foi sacrificada este ano após ser detectada a Leishmaniose. "Ela começou a sentir muitas dores. Melhorava por um tempo, mas logo piorava de novo. A levamos ao Veterinário e o exame de sangue comprovou a doença", conta. "Foi muito dolorido, ela estava com a gente há muitos anos. Mas tenho uma filha de 4 anos e a minha mulher está grávida, não podia arriscar a vida da minha família", lamenta.