Conheça os vencedores do concurso que premiou os melhores métodos substitutivos ao uso prejudicial de animais em sala de aula
30/12/2015 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:50am
Há 15 anos a médica veterinária Julia Maria Matera, professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP), começou a trabalhar com cadáveres em sala de aula. À época, a prática ainda era incomum e pouco abordada.
Hoje, o Brasil já possui várias iniciativas que usam métodos substitutivos e Maria Julia, uma das pioneiras no uso de cadáveres em técnicas cirúrgicas, pode afirmar que sua atuação inspirou outras universidades a adotarem práticas similares.
Em setembro deste ano, a médica veterinária recebeu um informativo do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e viu uma oportunidade de divulgar seu trabalho por meio do concurso da World Animal Protection, que contou com o apoio do CFMV. Seu objetivo era selecionar as três propostas mais inovadoras enviadas por professores da América Latina que utilizam métodos substitutivos ao uso prejudicial de animais.
A iniciativa buscava divulgar formas de ensino humanitárias nos cursos de Medicina Veterinária – alternativas educacionais que não prejudicam os animais. Além dos cadáveres de origem ética, outros métodos humanitários incluem simuladores (realidade virtual), manequins, impressoras 3D, vídeos de treinamento cirúrgico e técnicas de pintura corporal.
Foram recebidos mais de 40 projetos de diferentes países da América Latina e Julia Matera foi a vencedora do concurso, que teve seu resultado divulgado no dia 17 de dezembro.
Em seu projeto, ela descreve o ensino e treinamento de diferentes técnicas cirúrgicas e seus respectivos tempos sem o uso de animais vivos. “Um dos tópicos que destaco é o uso de uma bomba que aumenta a pressão nos vasos do cadáver e ele sangra como um animal vivo. Todos os tempos são factíveis de serem executados em um cadáver”, afirmou Matera.
Segundo ela, o aprendizado dos alunos é ainda maior com o uso de cadáveres. “É possível repetir o procedimento várias vezes, além de todos os alunos poderem praticar. É uma área em que é preciso desenvolver habilidades e isso só acontece com a execução”, acredita.
O terceiro lugar do concurso também foi para uma brasileira, a médica veterinária Simone Tostes, professora de Semiologia Veterinária na Universidade Federal do Paraná. O projeto de Simone demonstra as técnicas usadas em suas aulas de Semiologia para ensinar e treinar a sondagem uretral em cadelas por meio de modelos artificiais.
“É um procedimento difícil em animais vivos, pois as cadelas sentem muito desconforto com sondas. Dessa forma, com modelos, todos os alunos ficam satisfeitos, pois não machucam o animal e aprendem ao mesmo tempo”, explica. Além da sondagem uretral, Simone usa métodos alternativos em outros procedimentos, como coleta de sangue e palpação prostática.
“O concurso é importante não só para os premiados, mas para haver maior reconhecimento do grupo e da universidade, mostrando que estamos preocupados com o bem-estar animal e pensando no conhecimento e na informação que é passada aos alunos. Os dois lados ganham”, afirma.
Já o segundo lugar trouxe a experiência do médico veterinário argentino Pablo Otero, professor de anestesiologia na Faculdade de Ciências Veterinárias da Universidade de Buenos Aires. Seu projeto mostra o desenvolvimento e a aplicação de um modelo que reproduz as vias aéreas para treinar a intubação endotraqueal e manobras de ventilação em cães.
Saiba mais
As três propostas foram escolhidas seguindo critérios pré-estabelecidos, que levaram em conta a originalidade do método, a eficácia pedagógica, a possiblidade de replicação em outras escolas, o impacto na redução e/ou eliminação do uso prejudicial de animais no ensino da Medicina Veterinária, entre outros.
O prêmio entregue aos vencedores foi um kit de materiais composto por manequins, modelos e simuladores, que visam colaborar para a continuidade do ensino e treinamento humanitário na instituição.
Segundo a gerente de programas veterinários da World Animal Protection, Rosângela Gebara, “o concurso foi importante para compilar as principais iniciativas de um ensino ético na América Latina, fazendo com que métodos criativos e inovadores sejam divulgados para outras escolas e professores que queiram ensinar de maneira humanitária e sem prejudicar nenhum animal”.
Assessoria de Comunicação do CFMV com informações da World Animal Protection