Combate
09/09/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:06am
Uma das doenças respiratórias mais graves para aves comerciais, provocada pelo metapneumovírus, pode ser impedida com a introdução de moléculas de RNA nas células infectadas. A técnica foi testada com sucesso pela médica veterinária Helena Lage Ferreira em laboratório. Pelos resultados obtidos e pelo histórico de trabalho associado à pesquisa de doenças respiratórias aviárias, que inclui estudos sobre a Gripe Aviária também, a cientista foi contemplada com o Prêmio Fundação Bunge 2011, na categoria Juventude, no tema Defesa Sanitária Animal e Vegetal.
De acordo com Helena Lage, o metapneumovírus foi descoberto no final dos anos 70 e a técnica para combatê-lo, criada no começo dos anos 2000. Este invenção conferiu a cientistas estrangeiros o prêmio Nobel, em 2006. Entre 2004 a 2007, Lage desenvolveu sua tese de doutorado, testando o “Efeito da Interferência por RNA na replicação do metapneumovírus aviário subtipo A”. Este é um método que aplica moléculas de RNA nas células das aves infectadas pelo vírus. Este procedimento impede a reprodução do vírus e a manifestação da doença. O RNA é o responsável pela síntese de proteínas da célula e pode catalisar importantes reações biológicas no organismo.
Conforme explica, “as aves silvestres são hospedeiros naturais destes vírus, não apresentando problemas respiratórios provocados por ele. No entanto, especialmente galinhas e perus, típicas aves de produção, são mais sensíveis e acometidos pelo problema”. Embora tenha registrado grande sucesso, a técnica ainda não passou a ser utilizada comercialmente, pelo custo que representava. “O mesmo sistema, no entanto, passou a ser aplicado para o combate ao metapneumovírus humano”, afirma Helena Lage. A especialista Adriana Riccetto, mestre e doutora em Saúde da Criança e do Adolescente, explica que sua aplicação em humanos é ainda experimental; estudos clínicos estão sendo desenvolvidos para aplicação clínica futura. Desde 2004, há estudos sobre o uso da Interferência de RNA para diversos vírus que causam doenças respiratórias, como o coronavírus, adenovírua, influenza e vírus sincicial respiratóri. A aplicação, conforme os estudos, é, principalmente, intra-nasal, que aparentemente tem bons resultados. Aguardam-se novos estudos para o uso clínico rotineiro.
Gripe Aviária
O histórico de trabalho de Helena Lage inclui ainda um estudo sobre a gripe aviária, relacionado ao que é denominado de escape viral. A médica veterinária identificou que no tipo H5 (existem 16 tipos de hemaglutinina –HA) nos influenza vírus), encontrado esporadicamente em seres humanos, um dos aminoácidos da proteína HA se modifica após a transmissão de hospedeiros.”Não há um vírus exatamente igual ao outro e isso dificulta a criação de uma vacina”, afirma. Este estudo conferiu à cientista um prêmio em 2009, no 7th International Symposium on Avian Influenza.
Sobre Helena Lage Ferreira
Helena Lage Ferreira, de 32 anos, é mineira, da cidade de Ipatinga. É formada em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP (2003), possui doutorado em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP (2007) e pós-doutorado em Influenza Aviária pelo Veterinary Agrochemical Research Centre – VAR, na Bélgica (2008). Sua tese de doutorado emprega a tecnologia do RNA de interferência (material genético viral) no controle de vírus do trato respiratório de aves, resultando em importantes achados de pesquisa na área de sanidade aviária e abrindo futuros estudos para a avaliação de uma eficiente ferramenta para evitar o escape viral. É também professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo – USP, Campus Pirassununga.