ALIMENTOS
15/01/2013 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:05am
Com os alimentos responsáveis por quase metade da alta de 5,84% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2012, o Ministério da Agricultura avalia que os preços de alguns produtos devem cair no primeiro trimestre, contribuindo para arrefecer as pressões inflacionárias.
Apesar da expectativa positiva, existem incertezas quanto ao clima, que pode prejudicar as lavouras em desenvolvimento.
Após subir mais de 30% em 2012, a cotação do arroz deve cair com força nos próximos meses.
Com o início da colheita do grão, o governo prevê que a saca de 50 quilos, atualmente em R$ 37, deve ficar perto do preço mínimo – R$ 25,80 – até março. O cereal subiu 36,6% em 2012. Em virtude dessa expectativa, o ministério anunciou que não realizará leilão de venda do grão nos próximos meses e cancelou o pregão que ocorreria na semana passada.
O arroz foi um dos alimentos que mais contribuíram para a alta da inflação. O preço do grão subiu 36,6% em 2012 e respondeu por 0,65% da alta do IPCA.
Com a previsão de queda, começam a ser estudadas formas de auxiliar o escoamento do grão. Hoje, o Rio Grande do Sul colhe 70% do arroz produzido no país, ante 45% em 2004. Isso equivale a 8 milhões das 12 milhões de toneladas que devem ser produzidas em todo o país.
Dessa forma, existe receio de que seja preciso uma intervenção, da mesma maneira que ocorreu com o milho no ano passado, para o produto chegar a outras regiões do país. Por enquanto, o governo aguarda para ver se o próprio mercado é capaz de resolver o problema.
Caso existam problemas no escoamento, a Conab intervirá, por meio de leilões de escoamento, para garantir o abastecimento.
Já sobre o feijão, que sofreu alta de 31,53% na variedade carioca – a mais consumida no Brasil -, ainda pairam incertezas em relação à sua produção.
O clima instável em regiões produtoras, como o Paraná, pode frustrar a safra. A Conab espera que haja quebra no Estado que já registra chuvas acima do ideal. Por isso, a colheita foi suspensa em alguns municípios, e parte do que foi colhido e estocado pode ser perdido com a umidade.
Apesar de contar uma quebra, a Conab avalia que não será nada "significativo" e que haverá outras duas safras para recuperar as perdas. Segundo uma fonte da estatal, a alta de preços é especulativa, e a segunda e terceira safras serão suficientes para recuperar as perdas.
Outro problema com o feijão carioca é sua difícil armazenagem e o fato de perecer em apenas um ano, ao contrário do feijão preto. Para a fonte, falta investimento da Embrapapara melhorar a semente e expandir a durabilidade do grão.
O pior cenário está no pão francês, responsável pelo impacto de 1,04% no IPCA. Com a previsão de colheita da menor safra de trigo em cinco anos – de 4,3 milhões de toneladas -, o país terá que importar 7 milhões de toneladas.
A safra ruim coincide com restrições argentinas à exportação de trigo. Com isso, o Brasil será obrigado a importar volumes elevados do cereal de fora do Mercosul, com o pagamento de 10% de Tarifa Externa Comum (TEC). Normalmente, menos de 5% das importações brasileiras são trazidas de fora do bloco. Nesta temporada, essa fatia deve alcançar entre 35% e 42%.
O setor produtivo nacional espera uma forte alta no custo de aquisição pelos moinhos. No ano passado, a alta superou os 50% e grande parte desse reajuste já foi passado para o preço da farinha. Outros repasses devem ser feitos no primeiro semestre deste ano.
Para fontes do governo, o peso do pão no IPCA só é grande devido a dificuldade de incluir farinha de mandioca na receita. O projeto de lei 5332/2009, de autoria da deputada Elcione Barbalho (PMDB/PA), cria o "pão brasileiro" com a inclusão de mandioca e derivados na receita tradicional, mas está parado desde 2009 na Câmara dos Deputados. Segundo uma fonte do governo, o lobby das indústrias de trigo consegue paralisar essas iniciativas, que tornariam o pão mais barato ao usar um produto brasileiro e que pode ser cultivado em quase todo o território nacional.
A inflação da mandioca e da farinha extraída desse tubérculo em 2012, de 91% segundo a Conab, foi um "ponto fora da curva". Para técnicos da estatal, o preço só subiu devido à seca que atingiu o Nordeste, mas deve se normalizar este ano. Além disso, a área com a cultura no Paraná perdeu força nos últimos cinco anos para a cana.
O segmento de carnes, que apresentou deflação em 2012, deve começar 2013 em alta, segundo o presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Antenor Nogueira. A tendência, diz ele, é de alta no preço devido a fatores como falta de chuva nos pastos. Segundo Nogueira, em Goiás, Tocantins, norte de Minas Gerais e em Mato Grosso a chuva ficou abaixo do necessário para preparar o pasto.
Para o produtor de leite, 2012 não foi bom. Enquanto o preço do litro pago ao produtor permaneceu em cerca de R$ 0,80 por litro, os custos de produção subiram mais de 20%, segundo o Cepea/Esalq, afetados pela guinada nos preços do milho e farelo de soja e a seca. Os produtores aguardam a entrada da nova safra de grãos para baratear a ração e esperam que janeiro traga as chuvas desejadas.