Alerta

24/06/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:26am

A acidez crescente dos oceanos, que absorvem mais de um quarto do dióxido de carbono emitido pela atividade humana, poderia prejudicar os corais, os moluscos e outras espécies marinhas, afirmam especialistas.

A 1.200 km do Pólo Norte, no arquipélago de Svalbard (Spitzberg), cientistas de nove países europeus iniciaram uma ampla investigação para procurar entender melhor um fenômeno pouco conhecido.

“As águas frias do Ártico absorvem os gases mais rápido que as quentes ou temperadas. Aqui, nas regiões polares, o oceano se tornará corrosivo mais rapidamente”, estima Jean-Pierre Gattuso, oceanógrafo do Centro de Pesquisas Científicas francês (CNRS) e coordenador do projeto Epoca.

Desde os primórdios da era industrial, os oceanos do planeta ficaram 30% mais ácidos, alcançando um nível incomparável há 55 milhões de anos.

Esta tendência será mantida enquanto não diminuírem as emissões de dióxido de carbono (CO2).

Os cientistas mergulharam no fiorde do povoado norueguês de Ny-Alesund nove “mesocosmo”, que são como tubos de ensaio gigantes nos quais se injeta CO2 para simular o aumento da acidez dos oceanos entre hoje e 2150 e, assim, observar, a reação do ecossistema.

“O importante não é o valor absoluto da acidez, mas a rapidez com que muda”, disse Gattuso.

Nesse ritmo, os cientistas temem que a acidificação cause transtornos na vida submarina. Assim, a formação do esqueleto dos corais – fonte de rica biodiversidade e barreira protetora contra a erosão costeira – ou da concha dos moluscos poderia ser comprometida.

Segundo o oceanógrafo alemão Ulf Riebesell, “resta esperar que os microorganismos que vivem apenas alguns dias consigam se adaptar em cem anos”.

“Mas os que vivem muito mais tempo, como os corais, precisam de muitas gerações para modificar sua constituição genética”, acrescentou o pesquisador do IFM-Geomar.

Assim, o pterópode, espécie de caracol que mede apenas alguns milímetros, mas é essencial para a cadeia alimentar, já está tendo dificuldades para formar a concha que o protege, afirmam especialistas.

“Trata-se de uma espécie fundamental para a cadeia alimentar no Ártico. Alimenta-se de pequeníssimas partículas e fitoplâncton. Ao crescer, serve de alimento para espécies maiores, como peixes ou baleias”, explica o estudante de doutorado Jan Büdenbender (IFM-Geomar).

Sua concha contribui indiretamente para deter as mudanças climáticas, pois permite que, ao morrer, afunde, levando com ele o CO2 que ingeriu em vida. Desta forma, facilita a absorção na superfície do oceano de novas quantidades de dióxido de carbono.

As possíveis consequências do desaparecimento desta concha ainda são desconhecidas. No ecossistema, “um lugar nunca fica desocupado”, diz Gattuso. “Quando uma espécie desaparece, que valor nutritivo tem a que a substitui?”, pergunta o pesquisador.

Para o Greenpeace, que trouxe o “mesocosmo” de barco, o futuro dos organismos calcificadores marinhos depende dos países industrializados que deveriam, segundo a organização ambientalista, reduzir suas emissões em 40% até 2020.

“Ainda restam possibilidade de salvá-los, de limitar os danos”, diz Iris Menn, biólogo marinho da organização.