Abandono

05/10/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:06am

Estima-se que o Distrito Federal tenha mais de 308 mil cães e quase 31 mil gatos. A Organização mundial da Saúde (OMS) calcula que, pelo menos, 6% da população animal vive nas ruas. Além disso, muitos acabam sendo abandonados pelos próprios donos. Basta uma ida na Vigilância Ambiental do DF (antiga Zoonoses) para perceber o descaso. Nada menos do que 60% dos que ocupam o canil foram descartados pelos antigos donos. As justificativas para isso são muitas e vão desde a mudança para um apartamento, passando pela não aceitação dos filhotes até problemas financeiros. No entanto, é preciso ficar alerta. O abandono no Brasil é considerado uma prática criminosa, prevista na Lei dos Crimes Ambientais (9.605/98), que prevê pena de reclusão de três meses a um ano. De acordo com o Médico Veterinário da Vigilância Ambiental Laurício Monteiro, os animais são recebidos no local como uma alternativa para que eles não sejam deixados na rua. “Acabamos fazendo além da nossa missão. A Vigilância existe para combater as doenças que podem atingir os seres humanos, como a raiva. Esse é o motivo para que alguns animais sejam trazidos para cá. Mas sabemos que, se o bicho não ficar aqui, o dono pode abandoná-lo na rua”, observa. Anos atrás, o órgão ficou conhecido, principalmente, pelas ações de recolhimento de animais nas ruas com a utilização da carrocinha. Hoje, o trabalho é pontual. As pessoas ligam para a Vigilância e solicitam uma visita.

ESTRUTURA
O órgão, no entanto, não foi criado para o abrigo permanente desses animais. “Não somos clínica, não temos estrutura para tratar uma doença e, sim, para prover o bem-estar temporário com água, alimentação e limpeza, além dos exames e observação”, esclarece. Todos os animais que chegam à Vigilância passam por uma checagem para verificar o estado de saúde. Só depois, os animais que tiverem boas condições serão disponibilizados para a adoção. Por ano, são sacrificados 1,5 mil animais no DF, sendo quase 300 por leishmaniose. A adoção na Vigilância Ambiental é simples. De segunda a sexta-feira, o pretendente pode visitar o canil da unidade entre 10h e 16h. Feita a escolha, deve-se assinar um termo de compromisso, para, só depois, levar o animal.

À espera de adoção
Animal para adotar tem de sobra no DF. Só no grupo independente Augusto Abrigo são 329 cães, sendo 43 filhotes, e 156 gatos. Esses bichos são vítimas de abandono e maus-tratos. Antes de serem levados para a adoção, eles passam por tratamento, castração e vacinação. Diferentemente da Vigilância Ambiental, o termo de compromisso requer mais responsabilidade, prevendo até multa para quem descumprir alguma das cláusulas. “Infelizmente, tem crescido o número de animais abandonados no DF. Acredito que isso é reflexo da desvalorização da vida. Não se tem mais respeito pelo próximo, quanto mais por um animal. Por outro lado, vejo que o movimento dos protetores dos animais está começando a se unificar, propondo ações políticas e sociais para combater esse crime”, esclarece a voluntária do grupo Angélica Bessa. Algumas adoções acabam ocorrendo por acaso. Na última sexta-feira, o estudante Pedro Augusto Warlet Reis, 21 anos, presenciou o atropelamento da cadela Rodinha. “Eu estava saindo do meu trabalho e vi a cachorrinha sendo atropelada. Ela estava viva e ninguém tinha feito nada, nem o motorista. Para conseguir tratá-la,
levei até o Hospital Veterinário da UnB. A princípio eu procurei só para ela receber cuidados, mas já me apeguei”, conta.

CUIDADOS
O Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB) não recebe animais abandonados. Quando alguém leva ao local algum bicho, precisa se responsabilizar por ele. A professora Christine Martins explica que o recolhimento de animais descaracterizaria o papel do hospital. “Somos um laboratório e não temos espaço físico para isso. Tentamos ajudar a pessoa da melhor maneira possível, mas não podemos nos responsabilizar por cada animal que chega. Conscientizamos a pessoa que trouxe de que a responsabilidade não pode ser nossa”, ressalta. Para ela, a questão do abandono no Brasil é cultural. “É empurrar um problema para outra pessoa, responsabilizar o outro. Acredito que a conscientização animal já melhorou muito, mas ainda há barreiras que precisam ser quebradas, como a da castração”, lembra.