Tratamento com cães para obesos, idosos e autistas
19/05/2014 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:55am
Publicado em G1 em 19/05/2014
Prática envolve profissionais de ed. física, medicina veterinária e psicologia.Tratamento gratuito é oferecido em projeto de extensão de faculdade em AL.
Um projeto acadêmico multidisciplinar que já atendeu mais de 100 pessoas em Maceió vem mostrando que o cachorro, além de melhor amigo do homem, pode ser um bom terapeuta. Wendy, Shakira, Naomi, Solara, Lava e Iezy são alguns desses doutores de quatro patas que integram o Focinhos Terapeutas e ajudam no tratamentos de obesos, idosos e crianças autistas.
Criado em 2011 pela zoóloga com especialidade em treinamento físico, Maja Kraguljac, o projeto envolve estudantes dos cursos de educação física, Medicina Veterinária, fisioterapia, psicologia, nutrição, entre outros da área de saúde de uma faculdade particular do estado.
"A ideia surgiu quando eu ainda morava em Belo Horizonte, e minha mãe desenvolveu um quadro de depressão. Notei que quando compramos um cachorro ela começou a apresentar alguma melhora. Então pesquisei sobre os benefícios que os animais podem trazer a pessoas com alguns tipos de doenças, mas não fui além disso na época", contou Maja.
Em 2011, já em Maceió, ela submeteu o então pré-projeto de terapia assistida por cachorros a editais de projeto de extensão da faculdade e deu certo. Além de já ter realizado mais de mil sessões gratuitas, o Focinhos é tema de pesquisas anuais e já foi objetos de estudo em artigos apresentados em congressos nacionais.
Interação com autistas
Os pequenos Heitor e Felipe, ambos de quatro anos e com autismo de grau leve, interagiram durante quase 30 minutos com dois dos Focinhos Terapeutas, em uma das sessões que o G1 acompanhou.
As instrutoras voluntárias estimulavam a socialização das crianças passando a mão delas no pelo do cachorro, colocando o pé dos meninos por cima da pata dos cães, que nem pareciam se incomodar com todo aquele contato. Em vários momentos, as brincadeiras arrancaram gargalhadas das crianças.
A mãe de Heitor, a psicopedagoga Silvia de Souza e a mãe de Felipe, a servidora pública Márcia Vitorino, afirmaram notar leves mudanças no comportamento desde o início do treinamento.
"Felipe tinha muito medo de animais, principalmente de cachorro. Notei que agora esse medo diminuiu, ele fica menos estressado", contou Márcia. "Essa interação também é ótima para a parte pedagógica, é um estímulo a mais", afirmou Silvia.
Em outra sala equipada com circuito cheio de obstáculos, colchões, cordas Rodrigo, 8, interage com a cadela Solara. Incentivado pelos dois instrutores, ele joga a bola para a cachorra pegar. "A gente já tem um cachorro em casa e ele era mais estressado, agora fica mas calmo", contou a mãe de Rodrigo, Roseana Xavier.
Maja explica que os cães trazem muitos benefícios no tratamento de crianças com autismo. "Os estudos científicos mostram que os cães têm muita influência entre crianças autistas, devido ao estímulo da socialização. Conseguir que um autista se concentre e olhe dois segundos nos seus olhos já é uma grande conquista. E esse projeto mostra que essas crianças começaram a interagir melhor com os pais e família, com o ambiente, melhoria no contato visual", afirmou.
Motivação para obesos
"As pesquisas também revelam que é mais fácil emagrecer quanto se tem uma motivação, como por exemplo, sair para passear com o cachorro, correr. Muitos vêm fazer exercício só por gostar de ter a presença do cão", explicou Maja.
Segundo ela, alguns resultados do projeto apontam que os obesos que participam das sessões com os cães já tiverem uma melhora na frequência cardíaca e na pressão arterial. "Lembrando que a terapia assistida por animais é uma terapia complementar, para dar certo é preciso outro conjunto de fatores".
A técnica de laboratório Verônica Lino, chegou a pesar 105 kg, hoje com 101 kg, ela reconhece que está no caminho certo para chegar a ter uma vida saudável. "Eu fui a pioneira do projeto. Estou participando desde o início. Notei que na minha família as mulheres têm um histórico de longevidade, minha avó chegou aos 103 anos, então eu quero envelhecer com qualidade. Quero perder peso. Essa interação com animais é ótima. Parece que tem dias que eles sentem o que estamos sentido", afirmou.
Treinamento dos focinhos
Os 15 cães que participam das sessões às terças-feiras em uma faculdade particular localizada no bairro do Farol, e na Associação dos Amigos Autistas (AMA) às quartas-feiras, passaram por um adestramento especial, segundo a coordenadora do projeto.
"Eles são adestrados para não ter problemas de interagir com as crianças. Os cães precisam ser dessensibilizados, ou seja, se eu puxar o rabo, puxar a orelha, colocar a mão na boca deles, eles não vão morder", explicou Maja.
Aline Fernandes Melo, instrutora do projeto e graduanda do Curso de Medicina Veterinária explicou que também é observada a sanidade dos animais. "Ele é vermifugado, vacinado, passa por um treinamento e há uma preocupação com a carga horária das sessões para não sobrecarregá-los. Prezamos também pelo bem estar dos animais", contou.
"O maior benefício é conseguir trazer uma qualidade de vida melhor para essas pessoas por meio do contatos com animais e conscientizá-las que a maioria dos nossos animais foi de rua. Esses bichinhos podem fazer um lindo trabalho. Acabamos promovendo, inclusive, adoções e modificando comportamento. Gente que não gostava de bichos, chega aqui e começa a gostar"
Para se inscrever no atendimento gratuito do projeto Focinhos Terapeutas é só acessar o site do projeto (clicando aqui) ou pela página de mesmo nome no Facebook.