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07/07/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:26am

Assim como é feito com cobras e outros animais peçonhentos, o veneno de abelhas poderá ser neutralizado por um soro, produzido pelo Instituto Butantã em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O produto já teve dois lotes produzidos e aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que sejam feitos testes em vítimas de picadas. Capaz de neutralizar os efeitos do veneno, que vão de manchas no corpo, inchaço e até choque anafilático, o soro é produzido a partir de anticorpos criados em cavalos. "Injetamos no paciente os anticorpos já prontos", explica o diretor do serviço de imunologia do Instituto Butantã, José Roberto Marcelino.

O aumento no caso de acidentes com abelhas justifica a criação do antídoto. Segundo o Ministério da Saúde, o número de pessoas atacadas por enxames no Estado de São Paulo cresceu de 1.384 em 2007 para 1.549 no ano passado. O número de mortes também foi maior. Em 2009, três pessoas morreram vítimas de ataques. Em 2007 houve apenas uma vítima fatal. Em 2010 já foram registrados pelo menos três óbitos. "O desmatamento parece que está colaborando para mais acidentes", justifica Marcelino.

A chefe do ambulatório de alergia do departamento de pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Márcia Mallozi, explica que basta uma picada para que pessoas alérgicas sofram reações. "Recomendamos que as pessoas alérgicas andem com um dispositivo autoaplicável de adrenalina, para que possa evitar uma reação mais grave." De acordo com Márcia, a alergia só é desenvolvida após a primeira picada. "Às vezes a pessoa não se lembra, mas a sensibilidade só aparece depois do contato com o veneno." No caso de pessoas não alérgicas, o risco da picada está na quantidade. Um enxame de abelhas pode desencadear uma reação tóxica.

O apiterapeuta Ivo Manno Júnior afirma que o corpo humano só identifica quantidades de veneno acima de 30 microgramas. Cada abelha é capaz de injetar até dois microgramas da substância no corpo de uma pessoa. Portanto, a intoxicação ocorre após a picada de mais de 15 abelhas. Na apiterapia o veneno é usado para curar doenças autoimunes, dores e inflamações. "A picada durante o tratamento é diferente de quando alguém é atacado. A dor é diferente", diz Manno.

Atualmente, vítimas de ataques de abelha devem passar por um tratamento de dessensibilização. O tratamento, que envolve a aplicação de injeções, é demorado. "Quem foi atacado passará por um desses tratamentos de urgência", afirma a alergista Márcia. O soro pode ser a solução rápida para as vítimas. Os dois lotes já produzidos passarão por testes de estabilidade. O produto ainda será testado em animais e deverá demorar pelo menos um ano até que chegue ao mercado e seja distribuído na rede pública de saúde. "O produto é importante no caso de acidentes com enxames. O envenenamento por abelhas não é necessariamente mortal e pode ser resolvido com o soro", afirma José Roberto Marcelino, do Instituto Butantã.