Pesquisa

23/06/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:26am

Uma vacina inédita, desenvolvida por pesquisadores do curso de Medicina Veterinária da UFPR, para uma infecção de pele canina, a piodermite, está em processo de licitação na Agência de Inovação. O trabalho foi iniciado há cerca de quatro anos a pedidos de veterinários. A vacina ainda tem um diferencial: além de prevenir, ela combate a doença, com índices 88% de eficácia.

A piodermite canina é causada pela bactéria Staphylococcus pseudintermedius que, segundo estudos, libera cerca de quinze substâncias nocivas aos cães. Como explicam o pesquisador José Francisco Ghignatti Warth e o veterinário especialista em dermatologia canina, Cristóvão Camara Pereira, todos os cães possuem essa bactéria e a infecção não é contagiosa para outros cães ou humanos. “Mas quando existem lesões como a picada de uma pulga ou mordida de um cão, as bactérias se multiplicam, causando bolhas de pus e coceira”, esclarece Warth. Além disso, ela também pode ser desencadeada por alergias, parasitas, infecções por fungos, problemas do sistema imunológico ou desequilíbrio das glândulas endócrinas.

As pesquisas

A pesquisa fez parte da tese de doutorado da médica veterinária Cybelle de Souza, realizado no período de 2004 a 2007, na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Os estudos foram todos realizados no campus agrárias da UFPR. Segundo Cybelle, a vacina surgiu devido à necessidade de uma terapia alternativa para as piodermites. “O tratamento convencional com antibióticos pode ser caro, longo e desconfortável para alguns animais que sofrem com efeitos colaterais a estes medicamentos”, afirma Cybelle. Além disso, muitos animais têm a chamada piodermite idiopática recidivante, ou seja, o animal tem repetidos episódios de piodermite na ausência de uma causa primária que a justifique.

A vacina é produzida a partir da toxoide: toxina inativada da bactéria, como explica Warth. As bactérias do tipo Staphylococcus pseudintermedius liberam toxinas que impedem que os fagócitos (células do sangue que protegem o corpo através da ingestão de partículas estranhas, bactérias e células mortas) as ingiram. A vacina faz com que o organismo do animal produza anticorpos anti-toxina que desativam as toxinas produzidas pelas bactérias e assim permite a livre ação dos fagócitos na defesa do organismo.

Foram realizadas pesquisas em cães doentes da Sociedade Protetora dos Animais, beagles sadios da própria UFPR e em camundongos. Nos camundongos, além da vacina, também foi utilizado também o soro. A soroterapia não foi testada nos cães, devido a grande quantidade de soro necessária. Nos cães infectados, o organismo reagiu positivamente em cerca de uma semana. A resposta foi bem rápida demonstrando que o sistema imunológico já tinha sido ativado e estava assim apenas ‘adormecido’. Já nos beagles foi verificado o número de anticorpos suficientes para a prevenção da infecção.
Warth diz ainda que anteriormente existia apenas uma vacina parecida, produzida nos EUA. Contudo, ela não tinha o adicional de também combater a doença e que ela custava muito caro.

Pereira diz que utiliza a vacina há cerca de quatro anos, mas que há dois a vacina tem sido bem eficiente. Ele diz que sempre procura materiais para otimizar o seu trabalho. “Não ter a vacina seria a mesma coisa que ter 50% menos chance de sucesso”, expõe. Além disso, para ele, veterinários são juízes do bem estar do animal e a vacina não traz nenhum risco, ao contrário dos antibióticos que podem causar danos. O veterinário diz que alguns pacientes ficam indecisos porque o tratamento é longo, cerca de 5 a 7 aplicações ou mais, mas ele não tem dúvidas da escolha. “Eu imponho a vacina para meus pacientes”, brinca.