Pesquisa

23/05/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:48am

Pesquisadores europeus comprovam que a polinização das plantas por insetos já ocorria no Período Cretáceo, há cerca de 110 milhões de anos. Os bichos que auxiliavam a reprodução dos vegetais naquela época eram parentes das abelhas modernas
As abelhas são conhecidas por seu importante papel na polinização das flores. Sem o pólen que elas e outros insetos transportam de uma planta a outra, a reprodução de uma série de vegetais seria impossível. Agora, cientistas descobriram que essa "colaboração" é bastante antiga, e remonta à época dos dinossauros. Especialistas europeus descobriram fósseis de insetos carregados de pólen datando do Período Cretáceo, há cerca de 110 milhões de anos. Conservados em âmbar, esses espécimes, ancestrais das abelhas, são o registro mais antigo dessa importante troca para a natureza.

Atualmente, mais de 80% das espécies de plantas dependem de insetos para transportar o pólen entre as partes masculinas e femininas das plantas. Embora seja mais conhecido entre as flores, o processo também existe em outros vegetais, como as gimnospermas. Na polinização, abelhas, besouros e moscas pousam em uma flor em busca de alimento, ficando cobertas de pólen. Quando passam à planta seguinte para se alimentar novamente, parte desse material é deixado lá, possibilitando a reprodução entre seres que estão geograficamente separados.

Conservação

Apenas o âmbar, uma resina de origem vegetal fossilizada, pôde preservar, com riqueza de detalhes, características comportamentais como a polinização ocorridas há mais de 100 milhões de anos, período em que as plantas com flores começaram a se diversificar, tornando-se as espécies dominantes no planeta, no lugar das gimnospermas. "Essa é a mais antiga evidência direta da polinização. Além de ser a única da idade dos dinossauros", conta Carmen Soriano, do European Synchrotron Radiation Facility (ESRF), na França.

A especialista explica que os vestígios, encontrados em uma caverna no País Basco, no norte da Espanha, são uma pista importante de como vegetais e insetos estiveram ligados ao longo de sua evolução. "A coevolução das plantas com flores e insetos, graças à polinização, é uma grande história de sucesso evolutivo", conta Soriano. Nos achados descritos pelos pesquisadores, há seis fêmeas de insetos de um gênero animal até então desconhecido, o Gymnopollisthrips, parente das abelhas modernas, com centenas de grãos de pólen.

Arbustos

Provavelmente, as partículas vegetais pertencem a cicadófitas, grupo que compreende as cicas, pequenos arbustos largamente usados atualmente em jardins. Os insetos possuíam muitos pelos e estruturas no formato de aro bastante parecidas com as observadas nas abelhas atualmente, sendo eles, portanto, perfeitamente aptos para capturar o pólen. "Esse poderia de fato vir a ser um dos primeiros grupos de polinizadores na história geológica, muito antes que a evolução tenha desenvolvido as primeiras flores", observa Carmen Soriano, que liderou a pesquisa publicada na edição da semana passada na Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

Embora sejam essenciais para o desenvolvimento vegetal desde os tempos dos dinossauros, as abelhas andam enfrentando uma crise. No que vem sendo chamado de "apagão das abelhas", os insetos estão desaparecendo de uma série de regiões. "De acordo com o Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), entre 30% e 60% das abelhas sumiram na Califórnia, e mais de 70% em algumas regiões da costa leste e no Texas, no sul do país. "Algumas populações diminuíram enormemente. Por exemplo, na América do Norte, espécies comuns, que eram facilmente avistadas, parecem ter desaparecido de todo o continente. No Reino Unido, três espécies já foram completamente extintas", conta o entomologista britânico Dave Goulson (leia Para saber mais).

Para saber mais

Agrotóxicos ameaçadores

Duas pesquisas divulgadas em março podem dar uma pista do porquê do desaparecimento das abelhas em boa parte da Europa e dos Estados Unidos. Segundo um grupo de pesquisadores das Universidades de Stirling e de Lancaster, ambas no Reino Unido, são os agrotóxicos os grandes vilões da história. Embora a legislação vede a aplicação de produtos que matem os insetos, segundo os especialistas, alguns tipos de pesticida dificultam a reprodução e o crescimento das colônias de abelhas. Mais fracas e cada vez menores, as colmeias tendem a desaparecer.

Os especialistas da Associação para o Desenvolvimento da Apicultura da Provença e do Centro de Desenvolvimento de Abelhas de Avignon, ambos na França, descobriram uma justificativa a mais para o problema. Segundo eles, o agrotóxico thiamethoxam, permitido na maioria dos países, leva indiretamente os insetos à morte. Segundo a pesquisa do grupo, a substância atrapalha o funcionamento do sistema de orientação dos bichos, impedindo que eles reencontrem a colmeia depois de voar para longe. Assim, as abelhas teriam dificuldade de voltar para casa e acabariam morrendo. (MMM)