FIM

23/05/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:48am

O secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, comunicou ontem a reabertura do mercado argentino para a carne suína brasileira.

Porém, as empresas informaram que a decisão ainda não teve efeito prático, já que nenhuma autorização de importação foi emitida, segundo confirmou à Agência Estado fonte diplomática brasileira.

"Uma coisa é anunciar,outra é permitir na prática que o comércio seja realizado", disse a fonte.

O presidente da câmara da indústria de frios e embutidos, Martín Gyldenfeldt, recebeu ligação telefônica do secretário, ontem de manhã, para dizer que as importações de Suínos tinham sido liberadas. Mas ele não teve a confirmação da aprovação de nenhuma guia de importação.

"Acreditamos que o acordo de liberação está vigente e, dentro de algumas horas, seja concretizada a liberação", disse Gyldenfeldt.

A reabertura do mercado argentino para os Suínos brasileiros ainda é uma incógnita para as autoridades brasileiras e para a indústria local que trabalha com 25% a menos de sua capacidade por falta de matéria-prima brasileira.

Moreno fez dois acordos para regular o mercado de carne suína: um interno, outro com o governo do Brasil. No primeiro, conforme antecipou a AE há 10 dias, o setor privado argentino se dispôs a reduzir suas compras do Brasil em 20%, o que abriria espaço para a importação média mensal de 2,8 mil toneladas de carne e toucinho. Por esse acordo, fica proibida a importação de qualquer produto acabado (frios e embutidos).

O segundo acordo foi do próprio Moreno como governo brasileiro, durante visita recente, ocasião em que afirmou que reabriria o mercado de Suínos como "gesto de boa vontade". Em troca, Moreno pediu a abertura brasileira para os cítricos, as uvas passas e produtos farmacêuticos argentinos. "Em nenhum momento, ele falou de volumes.

Pelo que temos visto até agora, no caso da carne não chegaria ao desejado pelo Brasil, entre 3 a 3,5 mil toneladas. Mas está tudo tão nebuloso,que não se sabe ao certo o que ele vai permitir ou não", reconheceu a fonte.

A reabertura será certa, mas a fluidez do mercado vai depender de o Brasil afrouxar nas represálias, segundo uma fonte que acompanha as negociações. "Esperamos agora que o Brasil também faça a sua parte para que o comércio se normalize,caso contrário, não poderemos importar nenhum quilo de carne", disse.

Batatas. Nas duas últimas semanas, o Brasil tem adotado uma série de represálias contra a Argentina. A mais efetiva foi a que proibiu no fim de semana a entrada de batatas pré-congeladas.

As fornecedoras de batatas para as redes de fast food McDonald"s, Burger King e Bob"s, a canadense McCain e a holandesa Farm Frites, instaladas na Argentina, foram obrigadas a paralisar suas vendas ao Brasil. Quase 50 caminhões de batatas pré-congeladas foram barradas na fronteira brasileira.

A McCain, que produz 180 mil toneladas por ano de batata, suspendeu sua produção ontem.

Segundo nota distribuída à imprensa, a empresa informou que não havia maneira de manter a produção porque os custos de armazenagem são elevados.A empresa tem 300 pedidos de compradores brasileiros à espera de aprovação para entrar no país.

A McCainhavia vivido problema similar com o Brasil em 2009,quando o país também decidiu adotar represálias contra a Argentina por fechar seu mercado para vários produtos brasileiros.

A Farm Frites,por sua vez,passa pelo problema pela primeira vezeestácom15caminhõesparados na fronteira.A empresa produz 100 mil toneladas de batatas por ano e é a segunda maior produtora da Argentina.

Em situação similar se encontram os exportadores de maçãs, que há mais de duas semanas não conseguem vender nenhuma fruta ao Brasil. "Há 15 dias que não podemos embarcar nada para o Brasil por falta de aprovação de licenças de importações", disse o diretor executivo da Câmara Argentina de Fruticultores, Marcelo Loyarte.

"A situação é preocupante porque até março, mesmo com a adoção de Licenças Não Automáticas (LNA) para as frutas, a entrada no mercado brasileiro era rápida, não havia espera", disse.

Loyarte estima que desde o início da represália entre 80 a 100 caminhões deixaram de ser embarcados para o Brasil." É um prejuízo de uns US$ 18milporcaminhão", contabiliza. Loyarte disse que espera notícias em breve de uma negociação entre o Brasil e a Argentina, caso contrário, o setor exportador de frutas entrará em crise.

Fontes diplomáticas informaram que o secretário Moreno quer antecipar para a próxima semana reunião do comitê de monitoramento do comércio bilateral, prevista anteriormente para a primeira semana de junho.

"Até agora não podemos confirmar essa possibilidade porque os técnicos do Brasil vão estar fora do país", disse a fonte.

Comércio bilateral

2,8 mil toneladas é a média de importação de carne suína e toucinho produzidos no Brasil que seriam destinadas à Argentina

50 caminhões de batatas pré-congeladas foram barradas na fronteira brasileira