Encalhadas

06/10/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:25am

O número de baleias encalhadas nas praias do Brasil e de outros países neste ano intrigou especialistas. Os animais, em sua maioria, morreram no mar ou chegaram doentes e fracos ao litoral. Dos 73 encalhes de cetáceos registrados no período, apenas três estavam vivos. Um conseguiu retornar ao mar.

Para descobrir o que tem causado essas mortes, pesquisadores do Brasil, da Argentina e da Austrália — países onde o fenômeno foi mais frequente — vão colher informações de forma padronizada e analisá-las de forma conjunta. Estados Unidos e Espanha vão auxiliar o grupo, coordenado pela Comissão Internacional Baleeira
Comparado ao ano anterior, o número de baleias encalhadas no litoral brasileiro mais do que dobrou.

De acordo com o médico veterinário e coordenador do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes, em 2009 foram encontradas 30 baleias jubarte, 16 delas na Bahia. Este ano já foram 66 casos, 29 no litoral baiano. “Mais de 80% das baleias já estão mortas quando chegam à praia, então temos pouco tempo para colher as informações necessárias para uma necropsia. Além de serem mamíferos muito grandes e pesados, temos que lutar contra o tempo de subida da maré e da decomposição dos animais, que muitas vezes demoram dias para chegar à costa e vêm com mordidas de tubarões que se alimentaram da carcaça”, diz.

Entre as causas supostas estão o atropelamento por grandes embarcações e os ferimentos causados por redes de pesca. “Outras morrem por problemas de saúde, como infecções por bactérias, ou desnutrição”, conta Marcondes.

Na investigação, serão criados padrões de pesquisa para o registro de informações, como a faixa etária das baleias encalhadas e espessura da camada de gordura dos animais. Também será feita uma investigação dos hábitos alimentares.

Na última segunda-feira, um filhote de baleia jubarte fêmea encalhou no litoral de Caravelas, extremo sul da Bahia. Durante a noite, uma equipe de resgate do Instituto Baleia Jubarte trabalhou no desencalhe do animal que conseguiu voltar ao mar. Segundo especialistas, a presença da mãe próximo ao local do encalhe é fundamental, já que o filhote ainda está em fase de amamentação e precisa dela para sobreviver. A praia foi observada desde então pelo grupo de monitoramento do instituto para ver se o animal voltava a encalhar. Como o resgate ocorreu durante a noite, não foi possível observar se havia animais adultos por perto.

Conciliação

Após uma série de programas de proteção à espécie e do repúdio de diversos países à pesca desses animais, a população das baleias está em crescimento. “A população das baleias jubarte cresce num ritmo de 7% ao ano, mas ainda não alcançou o número adequado para restabelecer a quantidade de animais natural no habitat”, explica Marcondes. Segundo o especialista, é normal que, com o aumento do número de espécies, também aumente a quantidade de incidentes causados pela interação entre o homem e esses animais.

Todos os anos, entre junho e novembro, o litoral norte do país funciona como berçário para as baleias jubarte. Cerca de 80% delas escolhem a região de Abrolhos, no litoral sul da Bahia, para terem os filhotes. Para evitar colisões entre embarcações e baleias gestantes ou com filhotes, o Instituto Jubarte monitora o trecho entre Barra do Riacho (ES) e Belmonte (BA). “Com o monitoramento, os navios desviam dos trechos com grande incidência desses animais”, explica Marcondes. Desde 2003, quando foi formada a parceria, não houve incidente registrado.

Pesquisa e controle:
O Brasil é um dos 88 países que integram a Comissão Baleeira Internacional. Esta organização foi formada nos Estados Unidos em 1946 para garantir a conservação da população de baleias no mundo e tentar conter a exploração desordenada da pesca baleeira. A comissão também incentiva e financia pesquisas científicas sobre assuntos relacionados ao tema. Dentro da Comissão existem dois blocos de países, um formado por conservacionistas, como Brasil e Estados Unidos, e outro que defende a indústria baleeira, liderado pelo Japão.