CFMV Entrevista: Médica veterinária Gleidice Lavalle fala sobre prevenção do câncer de mama em cadelas e gatas

14/10/2016 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:46am

O câncer de mama é um dos tipos de neoplasia mais frequentes em animais, mas não pode ser encarado de forma generalizada. A médica veterinária Gleidice Lavalle explica que a doença atinge cada animal de forma diferente, e que, portanto, o tratamento deve ser definido individualmente.

Condição clínica, idade, qualidade de vida, e agressividade dos tumores são alguns dos fatores que devem ser levados em conta no enfrentamento ao câncer de mama. “A nossa prioridade sempre é a qualidade de vida. Se o paciente começa a ter comprometimento de qualidade de vida a gente faz a abordagem menos agressiva”, avalia Lavalle, responsável pelo serviço de oncologia da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A médica veterinária também trabalha na organização da Campanha Nacional de Prevenção Contra o Câncer de Mama em Animais de Companhia que conta com o apoio do Conselho Federal de Medicina Veterinária para, no mês do Outubro Rosa, divulgar informações com o objetivo de ajudar os proprietários a diagnosticar, enfrentar e prevenir a doença em cadelas e gatas.

Em entrevista à Assessoria de Comunicação do CFMV, Gleidice Lavalle fala sobre como a evolução da oncologia veterinária oferece novas opções para os animais acometidos pelo câncer de mama, e sobre os cuidados exigidos pela doença.        

 

Ascom/CFMV – Qual é o objetivo da campanha do Outubro Rosa?

Gleidice Lavalle É tentar conscientizar os tutores das cadelas e das gatas em relação à frequência das neoplasias mamárias nos animais e também estimulá-los a fazer a apalpação da região das glândulas mamárias. Qualquer detecção de lesão, mesmo pequena, eles já devem procurar o atendimento de um médico veterinário. Quanto antes a gente iniciar o tratamento com o paciente, maior chance de sucesso.

 

Ascom/CFMV – Esse é um problema muito comum? Qual é a incidência dele?

Gleidice Lavalle A incidência da neoplasia mamária em cadelas é extremamente alta. É o tumor mais frequente nas fêmeas. Nas gatas a incidência é menor. Mas o comportamento biológico das lesões nas mamas das gatas é muito mais agressivo do que nas cadelas. Apesar dessa menor incidência nas gatas, a doença é extremamente preocupante.

 

Ascom/CFMV – A Sra. percebe se há uma consciência dos proprietários a respeito desse problema?

Gleidice Lavalle Notamos que ainda há muito trabalho para ser feito nesse sentido de conscientização, que é exatamente o objetivo da nossa campanha. Mas eu, por exemplo, que atuo na área de clínica – dez anos somente na área de oncologia – , noto que isso tem mudado. Hoje os proprietários têm mais consciência da importância de procurar o médico veterinário, de que tem de ser precoce o diagnóstico. Mas temos muito trabalho para ser feito ainda.

 

Ascom/CFMV – Quais são as causas dessa doença? Que animais correm mais risco de desenvolver tumores nas mamas?

Gleidice Lavalle Os processos neoplásicos são mais frequentes nos pacientes veterinários mais idosos. Poucos são os processos neoplásicos frequentes em animais jovens. A partir de seis ou sete anos de idade aumenta a incidência. A carcinogênese das neoplasias mamárias está muito relacionada com a parte hormonal. Isso é muito semelhante ao que a gente vê na mulher. Existe uma relação hormonal que leva os animais a desenvolver os tumores de mama. Mas o câncer é uma doença multifatorial.

 

Ascom/CFMV – Esse processo hormonal é mais comum nas cadelas e gatas que não foram castradas, por exemplo?

Gleidice Lavalle A relação da castração está relacionada com a prevenção, que é o que a gente está reforçando na campanha, mas somente em animais em que o procedimento é feito precocemente.  Entre o primeiro e o segundo cio é o que a gente preconiza como idade ideal para a castração quando se pensa em prevenção. Mas a relação entre a gestação e a não-ocorrência de neoplasia mamária na cadela não é estabelecida como o que ocorre na mulher. A cadela quando fica gestante e amamenta, vai manter o intervalo de seu ciclo estral da mesma forma que se não tivesse tido esta gestação ou amamentação. São 60 dias de gestação e 30 de amamentação, somados a mais 90 dias sem influência de estrógeno. Ela ira ciclar na mesma época com ou sem a gestação, mantendo os intervalos de 6 meses. Ou seja, não ocorre diminuição na exposição hormonal, que é o que ocorre na mulher que durante os 9 meses de gestação e durante a amamentação não se expõe ao estrógeno.

 

Ascom/CFMV – Como é realizado o diagnóstico?

Gleidice Lavalle A mama da cadela e da gata é muito exposta visualmente, e o proprietário pode enxergar e também apalpar com facilidade. Então a gente orienta os proprietários a terem o hábito de passar a mão nas cadeias mamárias para ver se tem alguma alteração, algum crescimento anormal. Feito isso, o proprietário tem de procurar o médico veterinário de confiança dele, e o médico veterinário vai fazer a avaliação clínica do nódulo. Existem algumas alterações macroscópicas que a gente observa no tumor com relação ao tamanho, se existe aderência à pele, à musculatura, se existe processo inflamatório. Esses são fatores muito bem estabelecidos na literatura para a situação de prognóstico. Baseado nessas observações clínicas, o médico veterinário inicia a programação do procedimento cirúrgico da paciente, e a realização de exames de imagem para começar a definir o estadiamento desta doença clinicamente.

 

Ascom/CFMV – É possível garantir a qualidade de vida do animal tratado do câncer de mama?

Gleidice Lavalle Existe um grande tabu com relação à quimioterapia em animais de estimação. Os proprietários às vezes ficam muito inseguros e com uma impressão negativa, porque eles têm a tendência de associar o tratamento com a situação de alguma pessoa na família. Mas é totalmente diferente a abordagem na veterinária. Os médicos veterinários priorizam a qualidade de vida, e os animais, tanto o cão quanto o gato, têm mais resistência aos efeitos colaterais de vômito e diarreia do que o paciente humano, então a incidência é menor. Mas isso é individual também, alguns animais sentem mais, e outros sentem menos. Mas a nossa prioridade sempre é a qualidade de vida. Se o paciente começa a ter comprometimento de qualidade de vida a gente faz a abordagem menos agressiva. Cada caso tem de ser avaliado individualmente.

 

Ascom/CFMV – Antigamente existia uma cultura de não tratar o câncer em animais. Hoje os proprietários e médicos veterinários pensam diferente?

Gleidice Lavalle A oncologia na veterinária é uma especialidade em fase de ascensão. Hoje os proprietários querem investir mais no seu animal de estimação, pois o animal existe numa forma diferente dentro do perfil de família. E o médico veterinário também está mais qualificado para poder oferecer a esse paciente uma melhor abordagem, uma boa qualidade de vida. E prolongar a vida desse animal sempre com uma qualidade de vida satisfatória. Hoje isso é mais exigido pelo proprietário e a gente tem a condição de oferecer uma melhor abordagem.

 

Saiba mais:

Confira aqui a lista de alguns locais que estão participando da campanha

Baixe aqui o folder da campanha, elaborado pelo LPC/UFMG

Outubro Rosa: Campanha alerta sobre prevenção de câncer de mama em animais

Durante Outubro Rosa, lembre a importância da prevenção do câncer de mama em animais

 

Assessoria de Comunicação do CFMV