Anfíbios

17/11/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:04am

As populações de anfíbios estão diminuindo em todo o mundo e o seu declínio acontece a um ritmo superior ao de outros grupos animais: mais de 30 por cento de todas as espécies anfíbias encontram-se na Lista Vermelha da União Internacional da Conservação da Natureza (IUCN) e muitas estão listadas como “em perigo”.

Existem múltiplos fatores que ameaçam a biodiversidade anfíbia global mas a distribuição espacial destas ameaças e suas interações são pouco conhecidas. Um estudo recente, publicado na revista científica Nature, tendo Christian Hof como autor principal, mostra de modo preocupante, como as áreas de maior riqueza de espécies são também as que estão sujeitas às maiores ameaças.

A investigação foi dirigida por Miguel B. Araújo, Cátedra Rui Nabeiro/Delta Cafés, CIBIO, da Universidade de Évora, em Portugal, também investigador no Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid, em conjunto com Professor Carsten Rahbek, do Centro de Macroecologia, Evolução e Clima da Universidade de Copenhagen (Dinamarca), e contou ainda com a colaboração de Walter Jetz, da Universidade de Yale.

Entre as ameaças mais sérias estão as alterações climáticas, mudanças dos usos do solo e a doença fúngica Chytridiomycosis. Christian Hof e os seus colegas avaliaram a distribuição geográfica destas ameaças em relação à distribuição global. “As regiões onde o clima e a alteração da utilização do solo apresentam o maior impacto previsível nos anfíbios tendem a sobrepor-se”, explica o investigador, “contrastando, com a ameaça colocada pela doença fúngica que apresenta pouca sobreposição espacial com as outras duas ameaças”.

Mais anfíbios, maior ameaça

Os investigadores também descobriram que as áreas mais ricas em espécies de anfíbios do mundo têm maior probabilidade de exposição a uma ou mais ameaças do que as zonas pobres nestas espécies: “O nosso estudo mostra que mais de dois terços dos ‘hotspots’ de biodiversidade de anfíbios a nível global serão provavelmente fortemente afectados por pelo menos uma das três ameaças estudadas”, explica Miguel Araújo da Universidade de Évora.

Com base na sobreposição de factores de ameaça observada, os autores sugerem que avaliações de risco baseadas numa só ameaça devem ser consideradas como demasiado optimistas: “O nosso estudo mostra que o declínio de anfíbios irá certamente acelerar nas próximas décadas, uma vez que múltiplas causas de extinção podem colocar as suas populações em risco, muito mais do que estudos anteriores de análise monocausal sugeriram”, afirma Carsten Rahbek da Universidade de Copenhaga.

Walter Jetz (Universidade de Yale, Estados Unidos) conclui: “Com mais de 30 por cento de todas as espécies de anfíbios listadas como “em perigo” pela IUCN e muitas mais espécies raras a serem descobertas todos os anos, os nossos resultados demonstram claramente a necessidade de ser feita mais investigação em conservação e serem tomadas mais acções para preservar este grupo grandemente em risco”.